Um grupo de 70 postuladores da causa dos Santos encontra-se em Brasília (DF) de 14 a 17 de julho, na Casa dom Luciano. O evento, cujo principal objetivo, será partilhar as diferentes experiências, caminhos e desafios enfrentados nos diferentes processos em curso na Igreja no Brasil, é organizando pela Comissão Especial das Causas dos Santos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Na missa de abertura do encontro, o bispo auxiliar de Brasília e secretário-geral da CNBB, dom Ricardo Hoepers, levou aos participantes o abraço e o reconhecimento ao trabalho feito da presidência da CNBB e disse que o encontro é um sonho que a Conferência está realizando de promover o encontro dos postuladores. “Se Deus quiser ainda virão outros momentos tão significativos como este”, disse.
O bispo auxiliar de Brasília, dom Denilson Geraldo, presidiu a missa de abertura, acolhendo os participantes em nome da arquidiocese de Brasília, Igreja ânfitriã do evento. Em sua homilia, o bispo ressaltou que a Providência concedeu à Igreja no Brasil a graça de viver este Encontro Nacional dos Postuladores sob a luz do Jubileu da Esperança.
“Trata-se de um tempo propício em que a Igreja deseja ser sinal de esperança concreta e luminosa para a humanidade inteira. E quem melhor do que os santos e mártires para atestar que a esperança cristã não é teoria abstrata, mas vida transformada pela graça?”, afirmou.

O bispo auxiliar de Brasília afirmou que o reconhecimento por parte da Sé Apostólica, após rigoroso exame histórico, teológico e jurídico, não impõe uma nova verdade, mas confirma e eleva a voz do povo fiel, discernida à luz da fé. Segundo ele, a canonização manifesta a comunhão eclesial, em que o local e o universal, o sensus fidelium e o magistério, se entrelaçam harmonicamente.
Dom Denilson disse que o processo de canonização revela que a santidade não é expressão de mérito individual ou realização extraordinária, mas fruto da graça divina acolhida com fidelidade e encarnada no cotidiano, em profunda união com o Corpo de Cristo. “A santidade, portanto, é dom partilhado, sinal de comunhão e estímulo para todos os fiéis, chamados à plenitude da caridade”, destacou.

Abertura do encontro

Compuseram a mesa de abertura, coordenada pelo assessor da Comissão, frei Luís Felipe, o arcebispo de Pouso Alegre (MG) e presidente da Comissão Especial para a Causa dos Santos da CNBB, dom José Luiz Magela Delgado, e os bispos auxiliar de Belo Horizonte (MG), dom Júlio César Gomes Moreira, e o bispo de Crato (CE), dom Magnus Henrique Lopes, membros da Comissão.
Na fala de abertura, o presidente da Comissão, dom José Luiz Magela, deu início ao encontro de “comunhão, reflexão e formação”, com profunda reverência, afirmando estar consciente da nobre missão que cabe à comissão: “colaborar com a Igreja no reconhecimento da santidade vivida de forma heroica por tantos fiéis — homens e mulheres que, ao longo dos séculos, tornaram-se sinais vivos do Evangelho e testemunhas luminosas da presença de Deus no mundo”, disse.
Citando, o discurso do Papa Bento XVI, dirigido aos postuladores em 17 de dezembro de 2007, dom Magela, disse que suas palavras recordam a dupla dimensão de nossa vocação: “de um lado, o compromisso com a veracidade e integridade dos processos; de outro, a contemplação humilde e agradecida da generosidade da graça divina, que escreve sua história nos corações que se abrem ao amor de Cristo”.

Como postuladores, reforçou o presidente da Comissão, “somos mediadores entre a vida e a memória, entre o povo de Deus e o juízo da Igreja, entre a história e a eternidade. Nosso olhar é, ao mesmo tempo, técnico e espiritual. Reunimos provas, ouvimos testemunhas, analisamos escritos — mas, sobretudo, discernimos a presença da graça que transforma e santifica”, disse.
A noite do primeiro dia continuou com os postuladores partilhando as experiências e desafios encontrados nos processos de canonização atualmente em curso no país. O encontro segue até o próximo dia 17. O segundo dia será marcado por um retiro conduzido por dom Anselmo Chagas de Paiva, com reflexões sobre conversão, oração e as bem-aventuranças como caminhos de santidade. No fim do dia, os participantes farão uma peregrinação ao Santuário Nossa Senhora da Saúde.
No dia 16, o foco será a formação com o cônego Antônio Saldanha Albuquerque, do Dicastério para a Causa dos Santos, que abordará temas como “Cristo, fonte da santidade”, “A Igreja de santos”, a importância das causas e o papel do Studium.
Entenda o processo de Canonização
O processo de canonização na Igreja Católica Apostólica Romana, que leva à declaração de uma pessoa como santa, envolve várias etapas, incluindo a investigação da vida e virtudes do candidato, a comprovação de milagres e a proclamação formal pelo Papa. A primeira fase, é a “diocesana”. Nela, o bispo local inicia a investigação da vida do candidato, analisando sua fama de santidade e recolhendo testemunhos e documentos.
Na segunda fase, a “Romana”, o processo é enviado para o Dicastério para as Causas dos Santos no Vaticano, onde peritos teólogos e médicos analisam a documentação e os milagres atribuídos ao candidato. Na terceira fase, conhecida como “Beatificação”, ocorre a comprovação de um milagre atribuído à intercessão do candidato, ele pode ser beatificado, recebendo o título de “Beato” ou “Bem-aventurado”. Para a quarta e última fase, a “Canonização”, é necessário um segundo milagre, que deve ocorrer após a beatificação. Com a comprovação deste segundo milagre, o Papa proclama a pessoa como santa, e sua devoção é reconhecida em toda a Igreja.
Processos em curso no Brasil
Segundo levantamento do monge beneditino Valombrosano, do mosteiro de São João Gualberto (SP), o Brasil possui 37 santos, sendo 30 homens e 7 mulheres. Entre as santas, um exemplo é o de Santa Dulce dos Pobres, a primeira santa nascida no Brasil, canonizada no dia 13 de outubro de 2019, em uma cerimônia realizada no Vaticano pelo Papa Francisco. Os dados organizados pelo criador do Santoral Virtual – O Santo do Dia – revelam que o Brasil possui atualmente 171 processos de canonização, sendo 54 Bem-aventurados, 30 Veneráveis e 87 Servos de Deus.

Por Willian Bonfim