Em diálogo com os bispos de nomeação recente nesta quinta-feira, Leão XIV pontuou que “não bastam respostas prontas” para lidar com os temas difíceis da atualidade. Ele exortou os bispos a construir pontes e a servir “a uma paz desarmada e desarmante”.
Ricardo Balsani - Vatican News
O Papa Leão XIV encerrou com um diálogo a audiência nessa quinta-feira, 11 de setembro, com os cerca de 200 bispos recém nomeados que participam de um curso de formação. A Sala de Impresa da Santa Sé divulgou uma nota com o conteúdo da reunião, que aconteceu à portas fechadas em seguida ao discurso do Papa. Leão XIV ofereceu aos bispos uma síntese dos desafios e das questões que eles encontrarão no início do ministério: os medos, o senso de indignidade, as diferentes expectativas que cada um tinha sobre a própria vida antes do chamado.
O Papa mostrou como é necessário permanecer próximos do Senhor, conservar o tempo da oração, continuar vivendo a confiança incondicional no Espírito Santo, origem da própria vocação. O Papa sublinhou o valor da experiência pastoral e humana amadurecida em uma Igreja local, a ser desenvolvida em um novo ministério que coloca os bispos em contato com a universalidade da Igreja. Falou do valor do testemunho, da capacidade de renovar o contato com o mundo para responder às perguntas que homens e mulheres de hoje se fazem sobre o sentido da vida e do mal no mundo e afirmou:
“Não bastam as respostas prontas, aprendidas há 25 anos no seminário”
Papa Leão conclamou os novos bispos a serem discípulos perseverantes, não temerosos diante da primeira dificuldade, pastores próximos do povo e dos padres, misericordiosos e firmes, mesmo quando é preciso julgar, capazes de escuta e de diálogo, e não apenas de pregar sermões. Nesse sentido, acrescentou algumas palavras sobre a sinodalidade, não como método pastoral, mas como “um estilo de Igreja, de escuta e de busca comum da missão a que somos chamados”. E continuou: “Sejam construtores de pontes”. Leão XIV exortou os novos bispos a valorizar o papel e a integração dos leigos na vida da Igreja e a servir a paz “desarmada e desarmante”, porque “a paz é um desafio para todos!”.
Prontidão para enfrentar questões difíceis
Por fim, antes de responder a algumas perguntas, o Papa exortou todos a enfrentar com prontidão as questões ligadas a condutas inapropriadas por parte do clero: “Não podem ser colocados numa gaveta, precisam ser enfrentados, com sentido de misericórdia e verdadeira justiça, para com as vítimas e também para com os acusados”. Agradeceu também aos novos bispos por terem aceitado o ministério:
“Rezo por vocês, a Igreja aprecia o seu sim, vocês não estão sozinhos, carregamos juntos o peso e anunciamos juntos o Evangelho de Jesus Cristo”
Riscos no uso das redes sociais
Respondendo às perguntas colocadas pelos bispos, o Papa falou da necessidade de prudência no uso das redes sociais, onde existe o risco de que “cada um se sinta autorizado a dizer o que quiser, até coisas falsas”. Acrescentou: “Há momentos em que alcançar a verdade é doloroso”, mas necessário. Nesse sentido, é útil deixar-se ajudar por profissionais da comunicação, pessoas preparadas, sintetizando assim seu pensamento: “Calma, uma boa cabeça e a ajuda de um profissional”.
Falando do desafio de todo novo ministério, o Papa compartilhou o que isso significa para ele. Exortou a confiar na graça de Deus e na graça de estado, a reconhecer os próprios dons e limites, assim como a necessidade da ajuda dos outros — confiando-se, por exemplo, à preciosa experiência de um bom bispo emérito que possa acompanhar ou ajudar. Alertou também contra a tentação de formar o próprio grupo fechado em si mesmo.
Construir pontes e buscar o diálogo
O Papa Leão reiterou a necessidade de construir pontes, de buscar o diálogo, mesmo onde os cristãos são minoria, com respeito autêntico pelas pessoas de outras tradições religiosas, sobretudo através do testemunho do verdadeiro amor e da misericórdia cristã, porque "eles reconhecerão vocês pela forma como vocês se amam".
Falou da formação nos seminários, da responsabilidade da formação inicial. Exortou a acolher quem chega, a receber as vocações, mas também a acompanhar cada um na descoberta de outras dimensões do Evangelho e da vida cristã e missionária. Ao falar da missão, sugeriu confiar também naqueles leigos autenticamente missionários presentes nos movimentos, que podem ser uma esperança para a Igreja local.
Crise ambiental e Encíclica Laudato si’
Diante das perguntas sobre as graves consequências das crises ambientais, o Papa recordou o décimo aniversário da Encíclica Laudato Si’ e os encorajou a promover o tema na pastoral, acrescentando que, neste importante campo, “a Igreja estará presente”, mas sem misturar a esse tema outras questões contrárias à antropologia cristã.
Foram abordados também os temas das relações entre os diferentes organismos na Igreja — universal e particular —, do processo de nomeação dos bispos, objeto de estudo de alguns grupos criados no Sínodo, das muitas crises em curso no mundo, da necessidade de partilhá-las e enfrentá-las juntos, do valor da presença do bispo, que deve estar próximo do sofrimento. Falou-se também dos jovens, especialmente na Europa, após o recente Jubileu, de suas perguntas sobre comunhão e oração, e de sua sede de vida espiritual, que eles não conseguiram saciar nem no mundo virtual nem “nas experiências típicas das nossas paróquias”.
Ao final, o Papa concedeu sua bênção aos bispos presentes e os saudou individualmente no átrio da Sala Paulo VI.